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Sobre a lua e outras coisas

A lua rotacionava ao longo da madrugada, do lado direito ao esquerdo da minha janela. Alguns dias, bem visível; alguns dias, invisível, mas sempre rotacionando, assim como aquele ponteiro menor. As horas iam morrendo ao longo da madrugada, eu vivia os seus segundos sentindo àquelas coisas inomináveis. Pela manhã, tentei nomeá-las no caminho do consultório, endereçando à minha amável analista. Treinei falar: nas noites, sinto “oco”, “abandono”, “vazio”, “medo”, “temor”, “inadequação”, “desespero”, “abandono”, “isolamento”. Quando ela abre a porta, pontualmente às 9h30, abandono todas as palavras ocas e inadequadas, desesperada pelo temor de que minha analista me abandone frustrada por eu não me curar jamais da minha melancólica repetição. Deixo isso para lá e relato as preocupações vazias de um cotidiano conturbado de episódios maníacos, onde sou explosiva – no intervalo das 8h às 22h. Após o dia, às 23h, retorno ao isolamento, junto à lua, com medo da noite que morre.

Hair

Não é uma tinta no meu cabelo que me fará pensar diferente, não é mesmo? Mas mulher tem esse sentimento estranho de que se mudarmos o cabelo, alguma coisa irá mudar. Mas nada muda, a não ser o fato dos nossos familiares encher o saco! Eu não vou deixar o cabelo crescer, porra. E eu vou experimentar todas as cores. Até que algo aconteça. Até que eu consiga mudar algo por dentro da cabeça. Até que eu consiga cortar o que está grande, aqui dentro. Cortar os sentimentos pela raiz. Até que eu consiga colorir algo por dentro. Ou, ironicamente, descolorir algumas coisas. Eu não vou parar de falar alto até que eu ouça o que preciso ouvir. Eu não vou aprender a me maquiar até que eu consiga parar de me esconder tanto atrás de mim.

09/06/2017

Pareço-me muito com tudo aquilo que digo que sou, mas esta não o sou. Escapo das palavras, do pensamento, escapo. Transbordo. Sou o que não sei. Sou o que não controlo. Sou onde escorrego, sou no “sem querer”.                                              Onde controlo, apenas atuo, como também tu atua. Não é como se eu tivesse falando só, eu to falando com um terceiro que não está presente; presente em presença física, digo. Não é porque ninguém pode vê-lo, que não tenha um Tu . Falo destinando a alguém que não me ouve. Falo até mesmo sem me ouvir, só pelo descargo de falar.

02/08/2018

Quando, em seus olhos, vi o reflexo do meu rosto, olhei de volta para mim e aterrorizei-me. Senti vontade de me mascarar, colorir-me de todas as outras cores. Maquiei-me, moldei-me nas mais diversas formas – nada adiantou. Eu, que era bege, quis ser arco-íris. Queria encantá-lo, como ele me encantou, queria ser luz. Mas nada escondia o bege da minha alma. Eu, sem cor, sem vida, sem gosto, sem nada, tentei acreditar que era algo diferente, talvez assim eu pudesse convencê-lo. Ele despiu minh’alma e, ao seu toque, enrubesci. Avermelhei-me. Colori-me

Na estrada.

Na estrada. Na rua, na rota, no caminho. Na trilha, na rima, na linha, no limbo. No balanço, no avanço, não alcanço o horizonte adiante. Adiante! Adiante! Acelere, corra, mova, ande, avance. Avante! Uma curva, outra curva, declínio, declino no voo... – enjoo. Na rua, na rota... É luz de led que ilumina o caminho? Curvas encurtam o horizonte. Nas curvas, o mistério. O que vem em frente? O que me aguarda? Nada me aguarda, nós é que nos cruzamos. Cruzamos uns nos outros, ultrapassamos, ultrapassados, parados - quebra mola amola, a mola inquieta, buracos na estrada. Árvores verdes, estarão mais verdes, estarão amarelas, teremos ipê. Fotografo o horizonte, o monte, um monte de diversidades, felicidade... O registro não é como é a pupila. O garoto, o amor, meu bem, benzinho. Toco-lhe o rosto, do teu gosto eu gosto. Eu olho, te olho, seus olhos - me molho (um pouco). Que sufoco! não acaba. Que não acabe! Quero mais tempo com você. Tempo, tempo lento, vento - não vent...
Talvez o melhor jeito de suportar a ideia da morte seja sendo uma boa pessoa para aqueles que você ama, demonstrando todo o seu amor do melhor jeito possível, expressando e expressando sempre, amando. O amor é a resposta para muitas questões. E amar não para dentro, só na mente, mas externalizar!!  Deixar  que saibam! Não se trata de um desespero exaustivo de demonstrações de afets vazias, não se trata de encher o caminho de flores todos os dias para todo mundo que amamos, isso seria um absurdo. Mas ser uma boa  pessoa e fazer o possível para deixar aqueles que você ama bem, cuidar deles com os pequenos detalhes, uma ligação no meio do dia, cuidando em pequenos detalhes, enfim... Não sei. São tantas coisas possíveis! A gente nunca, nunca vai ta preparado para a morte, para ver alguém morrer. Mas que pelo menos possamos ter a consciência limpa e permitir que, depois, o que reste seja a saudade... E não uma carga pesada de arrependimentos. Nada mais amargo que o ...

Sobre o fim de um ciclo; sobre o fim da faculdade

Sobre o fim de um ciclo, sobre o fim da faculdade e sobre a biblioteca Antes, esses rostos todos me eram tão conhecidos… Eu sabia quem ali estava, quem ali estaria. Ao passar pelas mesas, às vezes apressada, às vezes a passeio, o caminho era interrompido por abraços diversos. Olá, tudo bem? Como você está? Abraços e beijos nas bochechas, diversos. Antes, eu conhecia os cabelos, os penteados, as cores. Havia o cabelo da L. , que se destacava e, logo abaixo, suas covinhas sempre acompanhadas do seu sorriso - sempre! Sempre sorrisos… O curto cabelo de S. , que fazia meu coração palpitar. Nessa, o sorriso era mais tímido, mais escondido, mas sempre amigável e simpático. Em uma monitoria ou outra, eu a via ali… Há mais tempo, há muito mais tempo, sabia que haveria corpos conhecidos estirados pelo chão, ao lado das estantes de livro, descansando de muito cansaço, esperando caronas prováveis. Eu sabia que talvez veria T. e seus cachos absurdamente lindos e ele estaria com alguma camisa ...