A lua rotacionava ao longo da madrugada, do lado direito ao esquerdo da minha janela. Alguns dias, bem visível; alguns dias, invisível, mas sempre rotacionando, assim como aquele ponteiro menor. As horas iam morrendo ao longo da madrugada, eu vivia os seus segundos sentindo àquelas coisas inomináveis. Pela manhã, tentei nomeá-las no caminho do consultório, endereçando à minha amável analista. Treinei falar: nas noites, sinto “oco”, “abandono”, “vazio”, “medo”, “temor”, “inadequação”, “desespero”, “abandono”, “isolamento”. Quando ela abre a porta, pontualmente às 9h30, abandono todas as palavras ocas e inadequadas, desesperada pelo temor de que minha analista me abandone frustrada por eu não me curar jamais da minha melancólica repetição. Deixo isso para lá e relato as preocupações vazias de um cotidiano conturbado de episódios maníacos, onde sou explosiva – no intervalo das 8h às 22h. Após o dia, às 23h, retorno ao isolamento, junto à lua, com medo da noite que morre.
Quando, em seus olhos, vi o reflexo do meu rosto, olhei de volta para mim e aterrorizei-me. Senti vontade de me mascarar, colorir-me de todas as outras cores. Maquiei-me, moldei-me nas mais diversas formas – nada adiantou. Eu, que era bege, quis ser arco-íris. Queria encantá-lo, como ele me encantou, queria ser luz. Mas nada escondia o bege da minha alma. Eu, sem cor, sem vida, sem gosto, sem nada, tentei acreditar que era algo diferente, talvez assim eu pudesse convencê-lo. Ele despiu minh’alma e, ao seu toque, enrubesci. Avermelhei-me. Colori-me
Pareço-me muito com tudo aquilo que digo que sou, mas esta não o sou. Escapo das palavras, do pensamento, escapo. Transbordo. Sou o que não sei. Sou o que não controlo. Sou onde escorrego, sou no “sem querer”. Onde controlo, apenas atuo, como também tu atua. Não é como se eu tivesse falando só, eu to falando com um terceiro que não está presente; presente em presença física, digo. Não é porque ninguém pode vê-lo, que não tenha um Tu . Falo destinando a alguém que não me ouve. Falo até mesmo sem me ouvir, só pelo descargo de falar.
Um amor bobo... Sempre quis um amor bobo, bem assim como você descreveu! Gostei!
ResponderExcluirBeijos.
Olá Ray! Tudo bem?
ResponderExcluirPara cada um de nós o amor tem um significado diferente, mas acho que no fundo, no fundo, todos querem um amor bobo!
Beijos, Ju.
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