E se tudo fosse mentira? Digo, e se você não fosse realmente quem é agora? Quem sabe, é apenas uma imagem que criei ou um conjunto de qualidades e defeitos programado para me fazer crer que você é meu homem perfeito. Talvez seja só uma máscara para esconder toda a minha grande carência e necessidade de abraços. Talvez você não seja realmente tão doce quanto descrevo nem tão necessário quanto sinto ao te ver partindo. Não sei ao certo e tenho suspeitas de que nunca saberei, mas posso até está te deixando entrar para tentar fazer outro alguém sair. Um alguém antigo, mas permanente. Um alguém que poderia me fazer mudar para algo terrível, mas você esteve lá e me salvou. Agora que te preciso, você corre para onde meus olhos não podem enxergar nem meu coração sentir. Agora que te quero, você não me quer mais. Se você soubesse ao menos um pouco do muito que te quero. Se você soubesse e parasse de fugir de mim, poderíamos, quem sabe, fugir das coisas feias do mundo e encontrar algo bonito para nós dois.
Sobre a lua e outras coisas
A lua rotacionava ao longo da madrugada, do lado direito ao esquerdo da minha janela. Alguns dias, bem visível; alguns dias, invisível, mas sempre rotacionando, assim como aquele ponteiro menor. As horas iam morrendo ao longo da madrugada, eu vivia os seus segundos sentindo àquelas coisas inomináveis. Pela manhã, tentei nomeá-las no caminho do consultório, endereçando à minha amável analista. Treinei falar: nas noites, sinto “oco”, “abandono”, “vazio”, “medo”, “temor”, “inadequação”, “desespero”, “abandono”, “isolamento”. Quando ela abre a porta, pontualmente às 9h30, abandono todas as palavras ocas e inadequadas, desesperada pelo temor de que minha analista me abandone frustrada por eu não me curar jamais da minha melancólica repetição. Deixo isso para lá e relato as preocupações vazias de um cotidiano conturbado de episódios maníacos, onde sou explosiva – no intervalo das 8h às 22h. Após o dia, às 23h, retorno ao isolamento, junto à lua, com medo da noite que morre.
Sentimentos são confusos e poucos são os que tem coragem de encará-los e pensar o que realmente significam, se não são apenas ilusões, carência, egoísmo até. As coisas feias são feias porque nossos olhos as vêem assim, talvez o amor sirva mesmo para tornar nossos mundos mais belos...
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