Eu posso passar um dia inteiro sem falar com você, sem te mandar nenhuma mensagem desesperada te lembrando que te amo. Eu poderia fugir agora para qualquer lugar, sem mandar noticias, e nem morreria de saudade por causa disso. Se você me deixasse, eu não deixaria de dormir à noite nem choraria assistindo filme romântico querendo você aqui ao meu lado. Sinceramente, eu sou completamente independente de você. Mas eu escolhi não fugir, eu escolhi ficar o dia inteiro pensando se você está bem e te mandar uma mensagem quando acordo e antes de dormir. Eu escolhi ser completamente sua sem que isso me trouxesse nenhum mal, sem que isso fosse arriscado. Você me culpa todos os meses por esquecer o nosso aniversário de namoro, mas eu nunca me esqueço do seu jeito tímido ao me pedir, com uma rosinha vermelha e um sorriso bonito, para ser sua como as estrelas são do céu. Você acha ruim o fato de eu não saber o número do seu telefone decorado, mas eu nunca me esqueço da sua voz alegre ao atender, quando eu ligo. Eu não sou desesperadamente apaixonada por você. Paixão é algo tão ilusório e passageiro. Eu viveria sem você sem chorar a noite toda, mas com você é melhor, com você tudo fica mais bonito. Eu poderia escapar de você, mas se eu escolhi ficar é porque, aqui dentro, algo nunca vai me deixar ser totalmente independente quanto eu penso que sou.
Sobre a lua e outras coisas
A lua rotacionava ao longo da madrugada, do lado direito ao esquerdo da minha janela. Alguns dias, bem visível; alguns dias, invisível, mas sempre rotacionando, assim como aquele ponteiro menor. As horas iam morrendo ao longo da madrugada, eu vivia os seus segundos sentindo àquelas coisas inomináveis. Pela manhã, tentei nomeá-las no caminho do consultório, endereçando à minha amável analista. Treinei falar: nas noites, sinto “oco”, “abandono”, “vazio”, “medo”, “temor”, “inadequação”, “desespero”, “abandono”, “isolamento”. Quando ela abre a porta, pontualmente às 9h30, abandono todas as palavras ocas e inadequadas, desesperada pelo temor de que minha analista me abandone frustrada por eu não me curar jamais da minha melancólica repetição. Deixo isso para lá e relato as preocupações vazias de um cotidiano conturbado de episódios maníacos, onde sou explosiva – no intervalo das 8h às 22h. Após o dia, às 23h, retorno ao isolamento, junto à lua, com medo da noite que morre.
Uau, que lindo!
ResponderExcluirAs vezes agente ama, e acha que não ama, acha que é fácil se livrar do amor, acha que não vai doer depois, mais doí, e quando alguém ama, ninguém e independente.
Concordei total com texto e achei lindo. Sucesso.