1, 2, 3, só mais alguns passos e
estou partindo. Você vai mesmo me deixar ir embora? Você destrancou a porta,
arrumou minhas malas, deu-me a chave. Você está certo sobre isso? Por favor, pense bem e com cuidado antes de
responder. O mundo lá fora é imenso, se você me rasgar por dentro, eu posso
rasgar todos os mapas que me levam de volta para você. Eu posso não encontrar
mais o caminho de volta para casa. Eu posso perder, também, a vontade de
voltar.
Sobre a lua e outras coisas
A lua rotacionava ao longo da madrugada, do lado direito ao esquerdo da minha janela. Alguns dias, bem visível; alguns dias, invisível, mas sempre rotacionando, assim como aquele ponteiro menor. As horas iam morrendo ao longo da madrugada, eu vivia os seus segundos sentindo àquelas coisas inomináveis. Pela manhã, tentei nomeá-las no caminho do consultório, endereçando à minha amável analista. Treinei falar: nas noites, sinto “oco”, “abandono”, “vazio”, “medo”, “temor”, “inadequação”, “desespero”, “abandono”, “isolamento”. Quando ela abre a porta, pontualmente às 9h30, abandono todas as palavras ocas e inadequadas, desesperada pelo temor de que minha analista me abandone frustrada por eu não me curar jamais da minha melancólica repetição. Deixo isso para lá e relato as preocupações vazias de um cotidiano conturbado de episódios maníacos, onde sou explosiva – no intervalo das 8h às 22h. Após o dia, às 23h, retorno ao isolamento, junto à lua, com medo da noite que morre.
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