Só liguei pra dizer que sinto muito. Pra dizer que um dos meus tantos e maiores medos é de te perder. Por isso ajo assim. Liguei pra ouvir sua voz e, finalmente, para você ouvir a minha. Para você ouvir tudo o que eu guardei por tanto tempo. Liguei pra dizer que eu ajo por impulso, falo sem pensar, faço sem pensar. Eu não penso. E me arrependo. Mas não quero que nada te afaste de mim, por mais que eu quisesse ter forças para me afastar de você. Há uma força muito maior me atraindo pra perto, cada vez mais perto. Não é só porque fico bem ao seu lado, mas porque quero te fazer bem também. Não é só porque meu sorriso é mais verdadeiro com você por perto, mas também porque quero muito te fazer sorrir. Já disse hoje que seu sorriso é bonito? Então, por favor, não desliga ainda, que eu liguei pra falar que você é muito mais do que eu posso descrever. Que eu enfrentaria tudo para poder te abraçar. Liguei agora, porque tenho medo do nosso tempo acabar e você sair da minha vida. Liguei porque não posso te deixar ir. Sonhei com você essa noite, e no sonho você ia embora. Posso te pedir pra ficar? Há uma frieza na sua voz e um abismo gigantesco entre nós dois. Tudo isso me dói muito. Não ter conseguido fazer você ser meu, assim como eu sou sua, me dói muito. E hoje já não dá mais. E ainda, liguei pra te dizer que eu te a... Bem, eu... Tá fazendo o que ai? Quer assistir um filme qualquer dia?
Sobre a lua e outras coisas
A lua rotacionava ao longo da madrugada, do lado direito ao esquerdo da minha janela. Alguns dias, bem visível; alguns dias, invisível, mas sempre rotacionando, assim como aquele ponteiro menor. As horas iam morrendo ao longo da madrugada, eu vivia os seus segundos sentindo àquelas coisas inomináveis. Pela manhã, tentei nomeá-las no caminho do consultório, endereçando à minha amável analista. Treinei falar: nas noites, sinto “oco”, “abandono”, “vazio”, “medo”, “temor”, “inadequação”, “desespero”, “abandono”, “isolamento”. Quando ela abre a porta, pontualmente às 9h30, abandono todas as palavras ocas e inadequadas, desesperada pelo temor de que minha analista me abandone frustrada por eu não me curar jamais da minha melancólica repetição. Deixo isso para lá e relato as preocupações vazias de um cotidiano conturbado de episódios maníacos, onde sou explosiva – no intervalo das 8h às 22h. Após o dia, às 23h, retorno ao isolamento, junto à lua, com medo da noite que morre.
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