Você diz que me ama, mas o jeito que você me pisa, querido, eu não consigo entender. Suas palavras são tão bonitas, mas você fez planos para conseguir me afastar. Eu não tenho muito tempo e o tempo não vai parar para nós dois. Você vai me deixar morrer sem saber se você me amava de verdade? Você vai me deixar ir sem um beijo de boa noite? Eu vou morrer sem saber se seus sorrisos e lágrimas eram verdadeiros. Eu vou morrer sem conhecer a sua verdadeira face. Enquanto vivo, eu tento acreditar, eu tento enxergar o seu lado de flores. Eu juro, eu tento te entender. Mas você faz um nó na minha cabeça, você é o enigma que eu nunca vou conseguir desvendar. Você faz promessas e canta as mais belas canções. Você manda tão bem nas palavras, mas me diga, quantas vezes você repetiu para elas o que disse à mim? Me responda: quantas você consegue amar? Porque mesmo de longe, eu ainda consigo ver: você promete ser o príncipe para mais de uma princesa. Você disse que nunca deixaria de me amar, mas você me trata tão mal e não manda flores no outro dia. Suas notas de violão não me enganarão mais. Quantas garotas você deseja ao seu lado? Quantas são você-é-a-única-que-me-faz-bem? Me mostre a sua lista de eu-sou-tão-sozinho-sem-você-eu-nunca-vou-te-deixar. Todas foram embora e eu nunca te disse adeus. Querido, você me machuca tanto. Você se tornou o espinho que me corta. Então me responda alto e claro: por que eu ainda insisto em te querer por perto? Por que esse sentimento ainda me controla?
Sobre a lua e outras coisas
A lua rotacionava ao longo da madrugada, do lado direito ao esquerdo da minha janela. Alguns dias, bem visível; alguns dias, invisível, mas sempre rotacionando, assim como aquele ponteiro menor. As horas iam morrendo ao longo da madrugada, eu vivia os seus segundos sentindo àquelas coisas inomináveis. Pela manhã, tentei nomeá-las no caminho do consultório, endereçando à minha amável analista. Treinei falar: nas noites, sinto “oco”, “abandono”, “vazio”, “medo”, “temor”, “inadequação”, “desespero”, “abandono”, “isolamento”. Quando ela abre a porta, pontualmente às 9h30, abandono todas as palavras ocas e inadequadas, desesperada pelo temor de que minha analista me abandone frustrada por eu não me curar jamais da minha melancólica repetição. Deixo isso para lá e relato as preocupações vazias de um cotidiano conturbado de episódios maníacos, onde sou explosiva – no intervalo das 8h às 22h. Após o dia, às 23h, retorno ao isolamento, junto à lua, com medo da noite que morre.
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