Garotinho

Você queria alguém para pegar na mão quando tivesse com medo. Alguém que te ligasse preocupado e viesse correndo te fazer uma sopa quando você estivesse doente. Aquele alguém que estaria ali até quando não estivesse. E apareceram uns, alguns, milhares, todos com muitas qualidades, mas eram aqueles poucos defeitos ausentes que você procurava. Porque você não queria só alguém para te mimar. Na verdade, você queria alguém que partisse - só para que você sentisse aquela saudade, para que a lua ganhasse significados particulares, para que seus pensamentos ficassem ocupados durante o tempo todo – mas que voltasse em breve e te enchesse de abraços. Porque não bastaria alguém que te fizesse sorrir, as lágrimas são essenciais também e você procurava alguém que as enxugassem se as fizesse cair. Formaram-se uma fila de rapazes perfeitos para tentar conquistar o coração daquela garota que não tinha nada de especial. Vieram poetas que lhe falaram as palavras mais lindas, vieram também os compositores que criaram diversas músicas. Porém, foi aquele garotinho no canto da sala, cheio de defeitos e manias erradas, um pouco egoísta, mesmo que se importasse muito com todo mundo. Aquele menino ali que ninguém via, mas que tinha um sorriso lindo e um coração de um tamanho incrível. Era ele quem você procurava, tinha nele as qualidades e defeitos que você precisava por perto. Ele era simples e tinha muito medo, achava o mundo grande demais e as pessoas um tanto quanto maldosas. E uma das coisas que você mais admirava nele era o seu medo absurdo de ficar sozinho. Não sozinho sem ninguém, mas sozinho sem você. Ele acordava chorando à noite e era seu nome que ele chamava. Ele era extremamente bonito e você o deu o apelido de “meu tudo”, talvez pela música que ele te dedicou, onde dizia que você era o tudo dele. E quem sabe realmente fosse. Você tinha cada vez mais necessidade dele e algumas horas perto dele eram muito pouco. Você o fez seu, e ele partiu, mas ainda assim ficou em você. Ele voltou e jurou nunca partir. Mas você, tola e ingênua, errou e, sem querer, sem pretender, escorregou para longe. Separaram-se e, ainda que pensassem um no outro, nunca mais se viram, nunca mais se tocaram. Embora se sentissem o tempo todo. Tiveram um fim, mas foram eternos.

(Rayanne C.)

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